18.1.13

A Viagem




-Minha Filha, você me ama?
- Amo, Senhor!
-Você morreria por mim?

-Claro,Senhor, eu morreria pelo Senhor (hipocrisia).
-Certo! Mas no momento, eu não gostaria de pedir que você morresse por mim,
apenas quero pedir que você se levante de sua poltrona confortável,
que você pagou por ela, pra que tivesse conforto e descanso até o seu destino
e deixasse aquela senhora, que entrou no outro município e pagou mais barato que você se sentar, ela está muito cansada. Quase não pode se aguentar em pé.
-Mas, Senhor, e se ela não aceitar? As vezes quando oferecemos nosso lugar
para pessoas idosas, elas pensam que a estamos chamando de velha (desculpas).
-Se ela não aceitar e ela não irá pra ser educada, você insiste. Não aceite "não" como resposta. Você é nova, pode aguentar ir em pé por quatro horas.
-Tudo bem, Senhor, eu vou fazer. Mas, deixa primeiro ela olhar pra cá (obstáculos).
-Chame-a!
-Senhor, eu estou com vergonha e ela não olha pra cá (mais desculpas).
-Eu fiz com que ela olhasse pra você e agora, o que você vai fazer?

Me levantei e chamei a senhora que estava em pé.

- Senhora, a senhora quer sentar aqui?
-Não, minha filha, pode ficar.
-Não, eu insisto, sente aqui, eu não aceito não como resposta.
Ela sentou. Me informando que desceria um município antes de mim. Eu não ficaria quatro, mas três horas em pé, (alivio).
Fone de ouvido, músicas, pedi a ela que segurasse minha bolsa, ela segurou. E alguns minutinhos depois olhei e ela estava dormindo. Assim ela foi, dormindo por mais dois municípios, (paz e regozijo).
Ficar em pé por três horas, não foi nada cansativo, nunca foi tão gostoso, nunca foi tão terno. Ela dormia. Linda. De repente um carinho quase como se fosse por minha avó tomou conta de mim. Que paz. Que coisa fantástica é essa que estou sentido?

Depois de dois municípios...Ela levantou e eu disse, sem ter muito o que dizer:
-Viu? Nem a senhora morreu por aceitar meu lugar, nem eu morri por ficar em pé.
Ela sorriu:
-Obrigada, minha filha, eu estava tão cansada, passei a noite acordada com meu neto no hospital, eu até dormir. Não estava mais aguentando.
-Não foi nada, eu que agradeço, (lágrimas).

As poltronas folgaram, D. Ana que estava viajando ao meu lado, também ia descer naquele município. E me despedi das duas. Então sentei, com uma alegria que extrapolava os limites da normalidade. Queria chorar, rir, sei lá.
-Minha Filha?
-Sim, Senhor!
-Agora eu sei que você morreria por mim.
-... (lágrimas).
-Fique olhando para a porta, eu quero que você veja como estou agora.
Olhei para a porta e a senhora que cedi lugar estava de costas pra mim Mas continuei olhando e antes que descesse ela me lançou um sorriso, mas um sorriso tão lindo, que nem o preço da passagem, nem nada nessa terra era capaz de pagar, por aquilo que senti, quando vi o próprio Deus sorrindo pra mim.

Terei mais viagens em pé.

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