Sem licença

(mais uma analogia sobre Deus e uma humanidade adolescente).

E foi assim que aconteceu. Eu respirei fundo, tomei coragem e disse:

-Pai, quero a chave do carro, vou sair com uns amigos hoje e quero ir dirigindo.

Ele franziu a testa, tomou ar e fez cara de quem não acredita no que está ouvindo, mas respondeu:

-Você não tem licença! Se quiser ir, seu Irmão te leva, ou nada feito!

Já chateada eu retruquei dizendo que não ia pagar o mico de chegar acompanhada do irmão a tiracolo, que já era adulta e não precisava de guarda-costas. Fui pro quarto. Bati a porta com força, minutos depois alguém bateu na porta. Uma voz mansa e doce do outro lado, educadamente perguntou:

-Posso entrar?

Primeiro disse que não me amolasse, mas depois de um tempo, me arrependi de ter feito isso com um cara tão maneiro quanto meu irmão. Eu sabia que por mais silêncio que Ele tivesse feito, Ele ainda estava lá, esperando pacientemente até que eu decidisse abrir a porta.

-Pode entrar - disse enquanto eu mesma abria.

-Podemos conversar um minuto?

-Sim, podemos. Agora, se você vêm com aquela lição de moral do Papai, sobre os meus amigos e os lugares que vou, pode esquecer, eu irei assim mesmo.

Humildemente, Ele respondeu:

- Não vim falar sobre isso. Vim falar sobre nós dois.

-Sobre nós?

-Vim dizer que eu gostaria muito de ir com você a essa festa. Que pra mim seria fantástico ser amigo da minha irmãzinha. Você tem muitos amigos, e muitos deles são até mais amigos do que eu. Se você quiser eu levo você. Eu ia adorar estar por perto, pro que você precisasse.

Fiquei chocada com a declaração, mas insisti na minha antipatia.

-Você não vai querer estar lá, esses lugares não são pra você. Você não gostaria de estar com meus amigos...

-Ao contrário, gostaria muito de conhecer todos eles. Mas, no caso, seria você que me levaria até eles. Mas só poderia levar se fossemos íntimos...

-Não, Mano, você não vai!- Ele sorriu e disse: "tudo bem, tentamos de novo em uma próxima".

Ele saiu do quarto e eu fiquei lá, com minha revolta, minha fúria e minha vontade de ser a dona da casa, a dona do mundo.

-Quero ser maior de idade, vou poder mandar no meu próprio nariz!

À noite, enquanto Papai e Mano dormiam, peguei as chaves e saí.

Agora são três horas da manhã. Bati o carro. Estou na estrada, sendo a motorista sóbria de três amigos bêbados. Tendo que aguentar a cantoria, as piadas e total falta de respeito. Sem grana e sem saber o que fazer. Pensando só que quando o Papai vir o carro eu estou de castigo pela eternidade. O que faço? Pra onde corro?

Há alguns minutos liguei pro meu Irmão Mais Velho. Ele está vindo me buscar, já penso até na bronca que vou levar DELE.

-O que aconteceu?

-Bati o carro e não está ligando, não tinha dinheiro pra chamar o guincho, liguei pra você já no momento de desespero. Eu sei que vai contar pro Papai e sei que estou de castigo pra todo sempre.

-Não se preocupe, eu estou aqui. De castigo você não fica, eu pago o conserto do carro com meu sangue se for preciso.

Ele mexeu no carro. O carro ligou. Olhei pra Ele já sem acreditar e disse:

- Como assim? Eu não mereço isso. Eu fui má com você, o troquei pelos meus amigos bêbados. Eu preferi a companhia deles do que a Sua e Você paga o conserto do carro e ainda me trata com todo esse carinho?

-Não faço isso porque mereça. Eu faço isso por que te amo. Eu sairia de casa, deixaria Papai a hora que fosse, pra te salvar dos falsos amigos, da noite fria e da estrada escura. Daria a minha vida se fosse preciso.

E Ele deu a vida DEle. Jesus saiu de um lugar fantástico, deixou Deus Pai e pagou um alto preço pra me levar de volta pra casa e me reconciliou com Papai. Meu Irmão Mais Velho, meu Protetor, meu Salvador, meu Defensor agora, meu Motorista. Passei as chaves pra mão DELE, não quero mais dirigir a minha vida.

Por: Aliny Gomes.