23.8.10

As Grandes Asas

Yan_Aguia

Quando nasci fui o ultimo a calar os berros. Todos pararam antes de mim, eu fiquei durante muito tempo, tentando saber o que estava acontecendo.
O tempo passou e me acostumei, sair do lugar quentinho em que vivia, foi estressante mas me adaptei para outro lugar que também se tornou quentinho, aconchegante acolhedor. Vivi naquele ambiente de paz e tranqüilidade durante os primeiros dias de minha vida. Sendo alimentado, afagado, vivendo na mais perfeita harmonia com meus irmãos e meus pais e protegido sob as aquelas Poderosas Asas.
O tempo passou. Um dia uma grande ave com um bico enorme colocou a boca no meu pescoço, com o susto não deu pra ver bem o que estava acontecendo nem o que era. Tudo o que eu conhecia até então tinha desaparecido e eu me vi, sem onde por meus pés. Fiquei literalmente sem chão. Todo o amor, todo o cuidado com que me acostumara tinham desaparecido, meus pais, meus irmãos, minha casa, onde estava Havia perdido tudo o que me era de mais precioso, e As Grandes Asas, cadê?
Havia em minha frente um infinito azul. Nada que pudesse me dizer: “calma! Existe um fim pra tudo, existe um lugar solido onde você poderá por seus pés, existe segurança!”. Eu estava desesperado, em pânico, achando que nada podia ser pior, eu nem tinha consciência do que era algo ruim até então, como se já não bastasse não conseguir ver o rosto do meu opositor. Do sol dando de frente nos meus olhos me cegando, das poucas coisas que pareciam belas não parecerem seguras, como se já não estivesse ruim o bastante uma coisa pior aconteceu.
Eu caí. Cai como se nunca acabasse o infinito em baixo de mim. Cai como quando sonhamos que estamos caindo e o susto é tão grande que acordamos. Cai mas não conseguia acordar. Não entendia o que era nem mesmo uma queda. Suei frio, meu corpo começava a congelar, meu coração palpitava dentro de mim e havia um terror, um terror. Ó Deus ajude-me!
Quando a queda já parecia algo da qual jamais me livraria outra coisa me tirou do lugar e me assustou novamente. O susto foi maior. O grande pássaro me pegou de novo pelo pescoço. Que pesadelo, Quando isso ia acabar, já não suportava mais. Veria meus pais novamente? Veria meus irmãos? Voltaria pra casa? Ou seria o fim da minha vida?
As perguntas em minha mente foram interrompidas de novo com outra queda. Mas havia desistido, já estava aceitando qualquer que fosse meu destino. A morte? Que venha então! Parecia tão injusto, alguém tão pequeno e tão novo, nem tinha histórias pra contar, não tinha ido a universidade, não tinha ido nem à escola! Após algum tempo que não consigo identificar quanto foi, mas pareceu-me eterno, fui novamente suspenso pela grande ave. Escurecia. O sol já não doía mais a minha vista. Estava trêmulo, triste, totalmente arrasado, com as perguntas em minha cabeça. De repente avisto minha casa, o ninho em que nasci. Meus irmãos todos lá e mamãe. Fiquei mais desesperado ainda, a grande vai matá-los também?
Foi quando estranhamente ela se aproximou do ninho e me soltou, dando uma volta sozinha e então pude ver quem era. Era o papai, ele era quem estava comigo no bico o tempo todo. Meu pai é uma águia e eu sou um filhote. Os momentos desesperadores que passei, foi a minha primeira escola. As grandes Asas que acolhiam foram às mesmas que voaram comigo pelo céu e me largaram. Toda essa história triste, era só meu pai me ensinando a voar.
Fui dormir triste, trêmulo aquele dia. Chorei até dormir. Por que papai havia feito isso comigo, perguntava? Se não tivesse me desesperado, teria visto papai bem antes.
Hoje que aprendi a voar, sei que se nunca houvesse passado por nada daquilo, não seria dono da maior alegria que alguém pode ter. O que os homens querem, mas não alcançam, passaria minha vida inteira com os pés em algo fixo. Olhando pro céu sem saber o que estava faltando na minha vida. Sentiria no intimo do meu ser a falta de algo que está incrustado nos meus instintos naturais. Sou uma águia e meu lugar é o céu.
Obrigada a Deus Todo Poderoso, que me acolhe debaixo de sua Grandes Asas, me alimenta, me dá água, mas que me ensina a voar para que esteja no céu Naquele Grande Dia.

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