15.7.10

O homem que esvaziava letras.


Era um adoentado esse seu Zé. Nasceu com uma doença grave: alergia ao mundo. Se visse, ouvisse, respirasse ou tocasse qualquer coisa, ele empolava imediatamente e produzia letras.
Letras?
Sim.
Letras.
Como quando encontramos letra na sopa, encontrava-se facilmente letras no sangue dele, sob a pele, nas unhas e fios de cabelo. Ele enchia de letras pelo corpo todo. Coitado! Sofria muito. Aonde ele ia, todos podiam ver o rosto dele cheio de letrinhas. Não podia abrir a boca que as letras saiam junto com o vapor d'água. Flatulencias então, a situação dele era critica, morria de vergonha.
As letras passeavam. Subiam e desciam pelo corpo todo normalmente, acompanhando o ballet da corrente sanguinea.
Fora estudado muito anos pelos cientistas na adolescencia. Sem sucesso, descobriram por que, mas não acharam a cura. Tinha dores, febre, suor frio, nauseas. Vida dificil. Os sintomas aliviaram ao longo dos anos a medida que ficava velho.
Ao termino da faculdade, achou a solução pro problema.
Quando escrevia o TCC, percebeu que a medida em que escrevia iam desaparecendo de seu corpo as letrinhas. Aliviava as dores e o mal estar com que já até havia se acostumado ao longo dos anos. Quase surta de tanta alegria quando pela primeira vez na vida, seu corpo parou de acumular letras.
E foi assim que ao longo da vida ele escreveu 1783 livros, 147867 textos, 59686 poemas. Foi redator de um jornal muito famoso da cidade onde nascera. vez ou outra parava de escrever, começavam a aparecer letras. Escrevia de novo e elas sumiam.
Morreu de velhice, com milhares de premios e nome em avenidas e predios publicos. No leito de morte, os que ali estavam contaram que quando ele abriu a boca, voaram para fora, mesmo ele fraco ainda três letrinhas. Primeiro um F. Depois I meio prolongado... A ultima letra foi um M, quase imperceptivel. Duvidosos, porém chegaram a conclusão que havia soletrado FIM.

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